Rendez - Vous
O Passado não nos deixa. Ele sempre volta para remoer as dores mais profundas da alma. Ele sempre volta para atormentar o Presente. Ele sempre volta para influir no Futuro. Este é o constante jogo do tempo, no qual o pior inimigo é a memória.
Nunca pensei que a veria novamente. Talvez até esperasse, inconscientemente, encontrá-la. Talvez até quisesse revê-la. Não sei. Ela estava linda, como sempre. Exuberante. O brilho de seus olhos era o mesmo. Podia sentir até mesmo o aroma de seu perfume. Ou talvez não. Talvez só a visão dela provocasse antigas sensações. Sensações estas que há algum tempo já estavam esquecidas. Esquecidas não. Adormecidas. Hibernantes. Esperando para serem despertas.
A sua presença chegou a apagar a daquele que a estava acompanhando. Mas não por muito tempo. Pior que revê-la era revê-la acompanhada. Eu me via a seu lado. Naquele instante amaldiçoei o seu escorte. Bem como havia amaldiçoado a ela. Pensei em me aproximar, em cumprimentá-la casualmente. Não. Estava além das minhas capacidades. Fiquei parado. Sentado. Imóvel. Observando.
Penso em todas as coisas que deixamos não feitas. Fatos não concretizados. Presos para sempre na impossibilidade. Irrealizados. Esquecidos? Não. Perdoados. Não esquecidos. A beleza é uma coisa horrível. E ela era bela. A mais bela. Única.
Foi então que ela olhou-me. Um olhar surpreso. Ela também lembrava. “Te amo”. Beijos. “Venha comigo”. “Impossível”. “Por quê?” Beijo. Por quê? Não sei.
Levantei-me. Cruzei o salão. Fui até ela. Desconsiderei o indivíduo sentado a seu lado. Olhei-a profundamente. Intensamente. Ela retornou o olhar.
-Tenho tido pesadelos contigo.
-Pesadelos?
-Não posso chamar de sonhos.
Silêncio.
-Te ter em minha mente e não poder te ter em meus braços...
Silêncio.
-Pesadelo.
Silêncio. O olhar é firme.
-Por quê?
-Por quê?
-É. Aquela noite. Por quê?
-Não sei.
-Tu não me amava.
-Eu nunca disse que não.- O olhar agora é terno.
-Também nunca disse que sim.
-Tu que não escutava.- Uma lágrima escorre pelo canto do olho.
Um beijo.
Não. Permaneci sentado. Retornei o olhar. Cumprimentando. Como a um estranho. Covardia? Medo? Talvez. Não sei ao certo. Sei de uma coisa. Nós agora vivemos em um tempo que não pode acontecer. Porque já passou. O futuro do pretérito. Um futuro que nunca será. Um tempo que vive de arrependimentos e lamentos. Mas que não nos deixa.
Nunca saberemos. Talvez seja melhor assim. Talvez não. Não sei.
1 Comments:
Ai meu deus...foi quase como ver um filme! Estou embasbacada! Muito bom! Vou linkar o seu blog, posso?
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