lost thoughts

idéias perdidas em algum canto...

Tuesday, December 06, 2005

Felicidade

- Você é feliz?
A pergunta soava descabida. A chuva caia forte e fria. Fria. Assim como o cano da arma que lhe pressionava a nuca. Era incomoda aquela pressão. Porém mais incomoda era a chuva. A roupa estava colada em seu corpo. Com certeza ficaria gripado. Gripado? Provavelmente nunca ficaria gripado novamente.
* * *
Após desligar o telefone fora para o banho. Ela havia concordado em vê-lo mais uma vez. Talvez voltassem a se entender. Talvez não. A discussão tinha sido séria. Não queria vê-lo nunca mais. Nem pintado de ouro. Mesmo assim resolveu ligar. No fundo não podia viver sem ela. Estava decidido a acertar as coisas. Começar novamente. Ao menos tentar.
Tomou um longo banho. A água, então, era quente. Agradável. Lavava-se para vê-la. Limpo de seus pecados. Vestiu-se com uma roupa elegante mas casual. Sabia que ela gostava daquela blusa. Ela tinha lhe dado em um aniversário. Sentia-se bonito. Confiante. Hoje iria compensar seus erros. Estava ansioso também. Ela parecia disposta a conversar. Mas qual seria sua reação? Ele permanecia com a dúvida.
Entrou no carro. Não ligou o rádio. Talvez até o tivesse ligado. Contudo, a ansiedade não o permitia. Saiu da garagem e tomou seu rumo. O rumo da felicidade? Era o que ele esperava. O sinal ficou vermelho. Ele parou. Seus pensamentos foram subitamente interrompidos. Uma nova sensação o dominou. Dor. Havia sido atingido na cabeça. Um pouco acima do olho esquerdo. Com muita força.
Por entre o olho inchado e o sangue viu a mão que o empurrava para o lado. O homem entrou no carro e partiu. Ela já o avisara para andar com a janela fechada. Não a escutara. Levantou a cabeça. Mais uma vez foi golpeado. Porém com mais força. Apagou. Ficou perdido em memórias e devaneios.
Acordou. Começara a chover. Água e sangue escorriam para sua boca. Estava deitado no chão. Não sabia onde. Sentia um peso sobre suas costas que o impediam de se mover. Sentia também uma pressão fria em sua nuca. O homem estava sobre ele com uma arma.
- Responde! Você é feliz?
Se era feliz? A pergunta era mesmo descabida.
Não respondeu. Ficou em silêncio. Qual seria a medida da felicidade? Será que se arrependeria de algo? Será que era feliz? Seria feliz? Um estouro. A nuca esquentou repentinamente. E ele não sentiu mais nada.
* * *
Ela esperou-o por uma hora. Por uma hora ficou sentada à janela. Observava a chuva que começara a cair. Pensava no que diria a ele. Uma hora. Ela levantou-se e foi embora. Teria sido feliz com ele? Não sabia. Jamais saberia.

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